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Biodiversidade brasileira na Alemanha

Biodiversidade brasileira na Alemanha

5 de junho de 2008

Agência FAPESP – A FAPESP e o Museu Botânico de Berlim inauguraram nesta quarta-feira (4/6), na capital alemã, a exposição Brazilian Nature – Mystery and Destiny (Natureza Brasileira – Mistério e Destino), cujo tema é o conhecimento sobre a biodiversidade brasileira.

A mostra, que fica aberta ao público até o dia 14 de setembro na sede do museu, tem como referência maior a Flora Brasiliensis, obra do botânico alemão Carl Philipp von Martius (1794-1868), que até hoje é o mais completo levantamento da flora brasileira.

Os 37 painéis que compõem a exposição foram concebidos com base nos dados provenientes de três projetos apoiados pela FAPESP: a Flora Brasiliensis On-line e Revisitada, a Flora Fanerogâmica do Estado de São Paulo e o programa Biota-FAPESP.

A cerimônia de inauguração contou com a participação de Maria do Carmo Amaral, da coordenação do Flora Brasiliensis On-line, Maria das Graças Lapa Wanderley, da coordenação da Flora Fanerogâmica e Carlos Alfredo Joly, da coordenação do Biota.

Com reproduções de imagens, ilustrações e textos explicativos, os painéis, cujo conteúdo foi compilado com a ajuda de representantes dos três projetos, estão dispostos no terceiro andar do museu e também ao longo da escada que dá acesso ao pavimento.

De acordo com o diretor do Museu e do Jardim Botânico de Berlim, Hans-Walter Lack, a exposição é uma amostra da excelência da produção científica brasileira, mostrando que o país não apenas detém a maior biodiversidade do mundo, como também se empenha em conhecê-la e em divulgá-la.

“A pesquisa científica na área de biodiversidade feita no Brasil, particularmente no Estado de São Paulo, é de notável qualidade e está dentro dos mais altos padrões internacionais. A exposição, também concebida e produzida dentro desses padrões, reflete essa excelência com grande precisão”, disse Lack à Agência FAPESP.

Para o embaixador do Brasil na Alemanha, Luiz Felipe de Seixas Corrêa, também presente na inauguração, a exposição é considerada pela embaixada um evento extremamente positivo para a relação entre os dois países.

“Ela é boa para nossa imagem tanto do ponto de vista de sua substância – que transmite uma idéia positiva do que estamos fazendo nos institutos de pesquisa no Brasil para preservar nosso patrimônio ambiental – como em relação ao momento em que ela ocorre, já que o tema da biodiversidade está à frente das atenções da comunidade internacional, principalmente na Alemanha, que acaba de receber do Brasil o bastão da presidência da Convenção sobre Diversidade Biológica”, disse.

Corrêa destacou que nas próximas semanas haverá um trabalho intenso para estabelecer as bases da continuação do trabalho da cooperação internacional sobre a biodiversidade entre Brasil e Alemanha, considerados países-chave no debate internacional sobre conservação.

“O Brasil detém a maior biodiversidade do planeta e a Alemanha é um país em que a consciência ambiental e o interesse pela questão talvez sejam dos mais intensos no planeta. O tema é central no debate político das duas nações”, afirmou.

Na avaliação do diretor científico da FAPESP, Carlos Henrique de Brito Cruz, um dos principais aspectos da exposição é apresentar ao público internacional os resultados dos três projetos.

“É importante mostrar que o Brasil está atento à sua biodiversidade da maneira mais sofisticada, que consiste em tratá-la como objeto de programas de pesquisa bem organizados, bem preparados e com resultados de impacto mundial”, afirmou.


Passado retomado

Segundo Lack, a exposição também coroa uma longa cooperação entre Brasil e Alemanha no campo do conhecimento sobre biodiversidade. Ele lembra que tudo começou com a viagem de 10 mil quilômetros empreendida no século 19 por Carl von Martius pela Mata Atlântica, Caatinga, Cerrado e Floresta Amazônica.

“O material compilado por Martius descrevia quase 23 mil espécies, incluindo quase 4 mil ilustrações de plantas, flores, frutos e sementes. Tudo isso foi feito de uma forma moderna, que, em vez de uma abordagem colonialista, caracterizava-se por um esforço internacional voltado para o conhecimento científico”, salientou

De acordo com Lack, que também é professor da Universidade Livre de Berlim, o projeto da Flora Brasiliensis On-line e Revisitada, que corresponde à primeira parte da exposição, representou uma continuidade ao trabalho de Martius, que teve seu último volume publicado depois da morte do autor, em 1906.

Em 2006, o projeto disponibilizou na internet a versão integral da obra de Martius, com 10.207 páginas com os textos das descrições das quase 23 mil espécies e as quase 4 mil ilustrações.

O trabalho foi financiado por uma parceria entre FAPESP, Fundação Vitae e Natura Cosméticos e executado pelo Centro de Referência em Informação Ambiental (Cria), pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e pelo Jardim Botânico de Missouri, nos Estados Unidos. O Flora Brasiliensis On-line está disponível em http://florabrasiliensis.cria.org.br.

“Os resultados da digitalização da Flora Brasiliensis foram apresentados a pesquisadores do mundo inteiro durante a Oitava Reunião da Conferência das Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica, em Curitiba, em 2006, por meio de uma exposição organizada pela FAPESP. Foi essa mostra que recebeu convite do Museu Botânico de Berlim para ser apresentada na Alemanha”, disse Maria da Graça Mascarenhas, gerente de comunicação da FAPESP e curadora da mostra Brazilian Nature: Mistery and Destiny.

“Mais tarde, a FAPESP decidiu ampliar a idéia, criando uma nova exposição incluindo resultados de outros projetos no campo da biodiversidade”, acrescentou Maria da Graça.

O projeto Flora Brasiliensis On-line e Revisitada inclui a atualização da nomenclatura utilizada no trabalho original de Martius e a inclusão de espécies descritas depois de sua publicação, com novas informações e ilustrações recentes.


Rumo a um novo inventário

A segunda parte da exposição remete ao projeto Flora Fanerogâmica do Estado de São Paulo, iniciado em 1993 com a participação de mais de 200 pesquisadores. O projeto descreveu cerca de 2 mil espécies fanerógamas – que produzem flores – na vegetação nativa paulista. Dessas, pelo menos 20 não haviam sido identificadas. Estima-se que os ecossistemas paulistas guardem 7,5 mil espécies de plantas desse tipo.

O levantamento já resultou na publicação de cinco volumes com ilustrações e informações sobre plantas de todo tipo presentes no Estado de São Paulo. Outros dez volumes serão publicados nos próximos anos.

Segundo o embaixador Corrêa, projetos como o Flora Fanerogâmica representam um modelo que, lançado pioneiramente em São Paulo, poderá ser seguido por outros estados, proporcionando, no futuro, a produção de uma nova e completa Flora brasiliensis

“A FAPESP nos ofereceu uma oportunidade de levar à Alemanha exemplos muito claros do passado, do presente e de como será o futuro da nossa contribuição na área de área de biodiversidade, mostrando a seriedade com que nós tratamos a questão no Brasil e indicando nosso compromisso com a comunidade internacional na preservação ambiental”, disse.

O projeto Flora Fanerogâmica reúne pesquisadores da Unicamp, da Universidade de São Paulo (USP), da Universidade Estadual Paulista (Unesp), dos institutos Botânico, Florestal e Agronômico e do Departamento de Parques e Áreas Verdes da Prefeitura de São Paulo. Pesquisadores da Embrapa, de 15 outros estados brasileiros e de outros países também contribuem.


Da teoria para a prática

O terceiro elemento da exposição ultrapassa os limites da botânica e aborda a biodiversidade de forma mais geral, correspondendo ao programa Biota-FAPESP, cujos resultados têm sido aplicados como instrumento de preservação ambiental no território paulista.

De acordo com o presidente da FAPESP, Celso Lafer, a importância da biodiversidade presente nos biomas do Estado de São Paulo dá à iniciativa um profundo significado global. “É importante que a exposição transmita à Alemanha e à comunidade internacional o alcance desse trabalho onde a teoria e a prática se unem”, disse.

O Biota-FAPESP faz o inventário e a caracterização da fauna, da flora e dos microrganismos em São Paulo e, desde sua criação, em 1999, já descreveu mais de 500 espécies de plantas e animais. Produziu ainda 75 projetos de pesquisa, 150 mestrados e 90 doutorados, além de gerar 500 artigos em 170 periódicos, 16 livros e dois atlas.

O programa integra na internet uma rede de laboratórios na qual 1,2 mil pesquisadores trabalham em 80 projetos. Os dados científicos produzidos pelo Biota-FAPESP foram recentemente transformados em mapas, que passaram a orientar os critérios de preservação da vegetação nativa paulista.

Premiado pela Fundação Henry Ford de Conservação Ambiental como iniciativa do ano em 1999, o Biota tem entre seus desdobramentos uma base de dados conectada a um Atlas digital, uma revista científica eletrônica e uma rede de bioprospecção e bioensaios.

“Todo esse trabalho é uma inciativa de imensa importância, porque, embora a obra de Martius seja incrivelmente extensa, a biota brasileira pode ter quase 1,8 bilhão de espécies e hoje não são conhecidas mais de 200 mil”, disse Lack.

Os painéis da exposição Brazilian Nature, em exibição em Berlim, podem ser vistos, com legendas em português, inglês e alemão, no endereço www.fapesp.br/publicacoes/braziliannature.