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Morre aos 76 anos o matemático Antonio Galves

Referência internacional na área de probabilidade, Galves coordenava na USP o Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão em Neuromatemática (NeuroMat), um dos CEPIDs da FAPESP


Morreu nesta terça-feira (05/09), aos 76 anos, o pesquisador Antonio Galves, professor da Universidade de São Paulo (USP) e uma referência nacional e internacional na área de probabilidade.

Natural de São Paulo, Jefferson Antonio Galves era membro titular da Academia Brasileira de Ciências (ABC), coordenador do Núcleo de Apoio à Pesquisa em Matemática, Computação, Linguagem e Cérebro (MaCLinC) da USP e do Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão em Neuromatemática (NeuroMat).

“A curiosidade científica, a ousadia e a energia inesgotável fizeram do Antônio uma grande liderança da probabilidade no Brasil. Ele inspirou gerações de jovens e foi o motor da criação do Núcleo de Apoio à Pesquisa em Modelagem Estocástica e Complexidade [Numec]. Parte demasiado cedo e deixa a matemática brasileira mais pobre”, disse Marcelo Viana, diretor-geral do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa), à Assessoria de Comunicação da entidade.

Claudio Landim, diretor-adjunto do Impa, destacou que Galves teve um papel fundamental no desenvolvimento da probabilidade no Brasil por seus trabalhos científicos e pelo seu dinamismo na organização de escolas e conferências, no estímulo à colaboração internacional e na orientação de alunos.

Comendador e Grã-Cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico, o matemático se dedicava aos estudos de questões de seleção estatística de modelos, especialmente sistemas estocásticos com memória e interações de alcance variável. Ele colaborou ainda para a criação de um dos mais importantes grupos de pesquisa sobre Sistemas Markovianos de Partículas. Foi na Universidade Pierre e Marie Curie (França), atual Sorbonne, que Galves recebeu o Diplôme d’Estudes Approfondies. Nesse período, ele iniciou a carreira enquanto pesquisador, se dedicando aos estudos dos sistemas Markovianos.

A possibilidade de usar esses sistemas para modelar sistemas termodinâmicos o levou a se interessar pelo estudo rigoroso de problemas de física-estatística fora do equilíbrio. Artigos seus contribuíram para a formulação de duas direções novas de pesquisa nessa área: o estudo do comportamento hidrodinâmico e do comportamento metaestável trajetória por trajetória.

O estudo da metaestabilidade desdobrou-se em outro sobre a aproximação exponencial da lei dos instantes de ocorrência de um evento raro em cadeias estocásticas. Já nessa época, começou a se interessar pelo tratamento probabilístico rigoroso de uma questão central da linguística: a modelagem da mudança nas línguas naturais. A necessidade de modelar os dados linguísticos o levou a se interessar pelo desenvolvimento de resultados novos de inferência em cadeias estocásticas de ordem infinita e, em particular, pelas cadeias com memória de alcance variável, que parecem ser modelos ideais para contornos rítmicos nas línguas naturais.

Nos últimos anos, dedicou-se ao estudo probabilístico e à análise estatística de redes neuronais. Desde 2011, vinha trabalhando com a modelagem estocástica de fenômenos neurobiológicos, tanto no MaCLinC, financiado pela Pró-Reitoria de Pesquisa da USP, quanto no NeuroMat, um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPIDs) da FAPESP.

Seu trabalho culminou na criação do Modelo Galves-Löcherbach, um modelo inovador para redes de neurônios que considera a estocasticidade intrínseca e a memória de alcance variável. Esse modelo revolucionou a compreensão de processos neurais e teve um impacto significativo na neurociência.


Página atualizada em 06/09/2023 - Publicada em 06/09/2023