BIOEN-FAPESP

Carta conjunta para questões em ciência e tecnologia English version

As discutir as questões sobre uso da terra relacionadas aos biocombustíveis, Kline et al. [Issues, Spring, 2009] destacam os resultados de uma avaliação recente entre agências [BRDI 2008] baseada em análises do uso atual da terra e projeções da linha de base do USDA (United States Department of Agriculture). O estudo BRDI afirma que a demanda antecipada dos Estados Unidos por alimento e ração, incluindo exportações, e pela matéria-prima necessária para produzir compulsoriamente 36 bilhões de galões de biocombustíveis de acordo com o Programa de Combustíveis Renováveis provavelmente deverá ser atendida utilizando a terra atualmente ocupada com agricultura e atividade florestal.

Observando o que poderia acontecer baseando-se nas tendências atuais é uma parte importante do quadro geral dos biocombustíveis, mas somente uma parte. Desenvolver uma perspectiva estratégica do papel dos biocombustíveis em um mundo sustentável no longo prazo requer uma abordagem que é global em escopo e que olhe além da continuidade das práticas correntes relacionadas ao uso da terra assim como da produção e consumo de alimento e combustível. Enquanto há uma relutância natural de considerar a mudança, nós devemos considerá-la já que a humanidade não pode esperar alcançar um futuro sustentável e seguro dando continuidade às práticas que têm resultado em um presente insustentável e inseguro.

Nós – um consórcio internacional representando a academia, o ativismo ambiental e instituições de pesquisa – enxergamos um apoio crescente para as seguintes proposições:

1. Devido às considerações sobre densidade energética, é razoável esperar que uma significativa fração da demanda de energia para transporte será atendida por combustíveis orgânicos por um futuro indefinido. Os biocombustíveis são de longe a mais promissora fonte sustentável de combustíveis orgânicos e provavelmente serão uma parte não discreta do setor de transporte sustentável.

2. Os biocombustíveis poderiam ser produzidos em uma escala muito maior do que a projetada por vários estudos até o momento sem comprometer a produção de alimentos ou a qualidade ambiental se mudanças complementares às práticas correntes forem feitas de maneira a promover este resultado.

Consistente com a primeira proposição, acreditamos que a sociedade possui um grande interesse em acelerar o avanço desses biocombustíveis benéficos. Tal aceleração seria consideravelmente mais efetiva em termos de tanto motivar a ação como seguir em direções eficazes se houvesse um amplo consenso e entendimento com relação à segunda proposição. A maioria das análises envolvendo biocombustíveis, incluindo aquela de Kline et al., ainda tem sido realizadas em um contexto altamente de manutenção das tendências atuais (business-as-usual). Em particular, nenhum tem explorado em escala global qualquer detalhe relacionado ao que poderia ser alcançado via mudanças complementares que promovessem a coexistência harmoniosa entre produção de alimentos e biocombustíveis.

Para abordar essa necessidade, nós iniciamos um projeto chamado “Viabilidade Mundial da Produção de Biocombustível em Grande Escala”. A Etapa 1 desse projeto, começando no final desse ano, inclui reuniões na Malásia, Holanda, Brasil, África do Sul e Estados Unidos visando examinar o nexo biocombustíveis/uso da terra em diferentes partes do mundo e planejar a Etapa 2. A Etapa 2 lidará com a questão: é fisicamente possível para os biocombustíveis atenderem uma fração considerável da demanda mundial futura por mobilidade enquanto atendem outras necessidades sociais e ambientais? A Etapa 3 lidará com questões econômicas, de política, de trajetórias de transição, éticas e de equidade, assim como uma análise em escala local. Uma descrição do projeto e uma lista dos membros do comitê organizador, assinantes desta carta, podem ser encontradas neste site.

Lee Lynd, em nome do comitê organizador:

Carlos Henrique de Brito Cruz, Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, Brazil

Andre Faaij, Department of Science, Technology, and Society, University of Utrecht, The Netherlands

Jon Foley, Institute on the Environment, University of Minnesota, USA

José Goldemberg, Instituto de Eletrotécnica e Energia, University of São Paulo, Brazil

Nathanael Greene, Natural Resources Defense Council, USA

Lee Lynd, Chairman, Thayer School of Engineering, Dartmouth College; Mascoma Corp., USA

Reinhold Mann, Battelle Science and Technology Malaysia, Kuala Lumpur, Malaysia

Patricia Osseweijer, Kluyver Centre for Genomics of Industrial Fermentation, Delft University of Technology, The Netherlands

Tom Richard, Institutes of Energy and the Environment, Pennsylvania State University, USA

August B. Temu, World Agroforestry Centre (ICRAF), Nairobi Kenya

Emile van Zyl, Department of Microbiology, University of Stellenbosch, South Africa


Página atualizada em 20/04/2013 - Publicada em 08/03/2010